A neurose obsessiva em cena: Luís da Silva e a lógica do desejo
Escolhi Luís da Silva, protagonista do romance Angústia, para poupar meus pacientes obsessivos — ou talvez para expor, com a ajuda da literatura, o quanto há de verdade em sua lógica subjetiva. Quando Graciliano Ramos escreveu esse personagem recluso, ressentido e hesitante, talvez não soubesse que estava capturando, com precisão cruel, algo da estrutura obsessiva do desejo.
Este texto não é uma análise literária, tampouco um inventário de sintomas. É um percurso pela lógica da neurose obsessiva, tal como Lacan a articula, com apoio da ficção. A partir do romance, exploramos os modos como o obsessivo se organiza em torno do desejo, do Outro, da fantasia e da angústia.
Como Hamlet — que Lacan chamou de “a peça da procrastinação” —, Luís da Silva hesita, cria fantasias e suplências que o mantêm vivo, desde que o desejo permaneça à distância. Entre o amor por Marina e o ódio pelo rival Julião Tavares, entre a busca por reconhecimento e o temor de se implicar, ele desenha uma arquitetura obsessiva que nos ajuda a escutar, com mais precisão, o que se passa na clínica.
É sobre isso que trata este ensaio: não sobre manias ou rituais, mas sobre a forma como o obsessivo se prende ao significante, sustenta o Outro e evita o desejo — mesmo que isso lhe custe a própria existência. E é justamente aí que a angústia, como o nome do romance, marca sua presença.